De uma bolsa PROCULTURA para o palco da Gulbenkian – o percurso de sucesso de Pak Ndjamena na dança contemporânea
2 de Maio de 2025
Em 2020, o bailarino e coreógrafo Pak Ndjamena foi um dos artistas dos PALOP-TL premiado com uma bolsa de mobilidade internacional PROCULTURA. Em março deste ano, foi um dos escolhidos para subir ao palco da Fundação Calouste Gulbenkian, na III Mostra de Artistas Residentes. No rescaldo do Dia Mundial da Dança, fomos conhecer o seu percurso e perceber o impacto que a residência artística teve na sua carreira.
Nascido há 38 anos em Maputo, Moçambique, é sob o nome de Pak Ndjamena que Bernardo Guiamba se tem afirmado na cena artística africana e internacional. Bailarino, coreógrafo, professor de dança contemporânea, ator, realizador, músico… Pak é um artista multifacetado, que tem vindo a desenvolver um conjunto de técnicas de danças híbridas, em busca de uma nova inscrição coreográfica e de um novo corpo contemporâneo.
Profundamente influenciado pelas danças da África Ocidental, África do Sul e Moçambique, especializou-se mais tarde em dança contemporânea, tendo trabalhado com coreógrafos europeus e africanos que lhe abriram caminho, para que pudesse transcender as suas visões, abrir horizontes e experimentar diferentes formas e expressões. Orgulhoso das suas raízes africanas, Pak considera-se um cidadão do mundo e encara a arte como a linguagem que tem em comum com os seus pares.
“A arte representa muita coisa na minha vida, inclusive serve-me de terapia… de cura divina. Além disso, através da arte, consigo apoiar outros artistas a desenvolver suas carreiras e, consequentemente, ajudar no desenvolvimento do panorama artístico e cultural em Moçambique.”
Com uma carreira internacional consolidada, tendo já passado por mais de 15 países, Pak Ndjamena coreografou e interpretou mais de 20 peças e foi o vencedor do «Mozal Arts & Culture Award» 2019, na categoria de dança. Mais recentemente, Ndjamena tem-se dedicado às oficinas de «Tremuria Project», uma nova terapia através do corpo dançante em África, Europa e América Latina.
Em 2020, uma bolsa de mobilidade do PROCULTURA levou-o ao Brasil, para participar no programa de residências artísticas internacionais nas áreas da música e artes cénicas. No Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro, Pak desenvolveu a residência «Corpos Híbridos” que viria a dar origem à performance «dEUs nOS aCudI».
“A residência culminou numa mostra coreográfica com cerca de 15 bailarinos. Depois dessa estreia, durante quatro anos, a peça foi mostrada em diversos festivais e teatros e continua a ser crucialmente representativa para os dias de hoje.”
O solo «dEUs nOS aCudI» tem feito um circuito internacional notável desde então. Foi aliás o espetáculo que apresentou no dia 30 de março na Gulbenkian, no âmbito da III Mostra de Artistas Residentes PROCULTURA.
Em «dEUs nOS aCudI», Pak Ndjamena reflete sobre as sociedades de consumo e o lugar do corpo na atualidade, ao mesmo tempo que procura também investigar a forma como a religiosidade secularizada, as crenças, as divindades, os rituais e os mitos estão interligados no quotidiano. O artista questiona como estes podem ser utilizados como estratégia de controlo social, afetando diretamente os corpos e a sociedade, através de regras e padrões.
“Senti-me Imensamente honrado por poder apresentar o meu solo na Gulbenkian, precisamente no momento em que a obra ganha outra dimensão coreográfica e profissional. Acredito que, depois da Mostra de Artistas Residentes, outras oportunidades venham a surgir.”
Depois de Lisboa, e ainda este ano, a peça «dEUs nOS aCudI» será apresentada no «Serendipity Arts Festival», em Goa. Quanto a projetos futuros, Ndjamena revela que tem estado a trabalhar numa nova obra coreográfica, com outros 11 bailarinos moçambicanos, e que tem pronta a obra multidisciplinar «INTROO», criada e produzida por inteiramente por si.
O PROCULTURA é um projeto financiado pela União Europeia, que é gerido e cofinanciado pelo Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. e conta também com financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian. Dispõe de um orçamento de 19 milhões de euros e tem como objetivo contribuir para a criação de emprego em atividades geradoras de rendimento na economia cultural e criativa nos PALOP e em Timor-Leste.
@Maria Abranches