Saltar para o conteúdo

Em semana de celebração do Dia Mundial da Dança, conversámos com Mai-Júli Machado, bolseira PROCULTURA que levou a sua «AMELLE» ao palco da Gulbenkian

2 de Maio de 2025

Em 2023, a bailarina e criadora Mai-Júli Machado foi uma das artistas dos PALOP-TL premiada com uma bolsa de mobilidade internacional PROCULTURA. A propósito do Dia Mundial da Dança, recordamos a sua passagem por Lisboa no final de março, onde subiu ao palco do Grande Auditório da Gulbenkian, na III Mostra de Artistas Residentes.

Mai-Júli Machado é uma dançarina e criadora moçambicana, cuja trajetória artística tem sido marcada pela combinação entre raízes africanas e linguagens contemporâneas. Nasceu em 1997, em Maputo, tendo começado a dançar profissionalmente em 2012, na «Companhia de Canto e Dança da Matola. A sua formação tem sido marcada por uma pluralidade de experiências, tanto em projetos nacionais como internacionais. Entre 2013 e 2023, participou em dezenas de workshops, estágios e residências, tendo trabalhado com nomes incontornáveis da dança, como Ídio Chichava, Panaibra Gabriel Canda, Horácio Macuácua, David Zambrano, Aïda Colmenero Dïaz, Wim Vandekeybus, Mathilde Monier, entre outros. Foi na «CulturArte», uma das mais reconhecidas estruturas de dança contemporânea em Moçambique, que se formou intensivamente entre 2016 e 2020, desenvolvendo técnicas de improvisação e composição coreográfica. 

Mas o seu percurso internacional tem sido igualmente notável. Em 2022, beneficiou da prestigiada bolsa de estudos em dança contemporânea «DanceWeb», no âmbito do festival «Impulstanz», em Viena. Lá, para além de um contacto direto com artistas internacionais, teve oportunidade de colaborar num projeto de pesquisa com a coreógrafa francesa Mathilde Monnier. Em 2023, emergindo também como criadora, viu a sua primeira criação, «Sinais Particulares», selecionada para ser financiada e apresentada no «Kinani», Plataforma Internacional de Dança Contemporânea e um dos mais importantes encontros de dança contemporânea em África.

Foi também em 2023 que uma bolsa de mobilidade do PROCULTURA a levou até França, para participar no programa de residências artísticas internacionais nas áreas da música e artes cénicas.

“A residência foi determinante para a artista que sou hoje. Digo sempre que, em África, há muito talento, mas, muitas vezes, é preciso irmos para fora, para termos o nosso talento reconhecido. Por isso é que o PROCULTURA é tão importante: porque dá-nos oportunidade de sonhar novamente.”

Mai-Júli Machado passou um mês no «Centre national de danse contemporaine» d’Angers e a sua técnica e sensibilidade foram notadas. Nesse mesmo ano de 2023, integrou uma digressão europeia com a companhia de Mathilde Monnier, uma das figuras de referência da dança contemporânea, apresentando a peça «Black Lights» em cidades como Montpellier, Avignon, Viena, Bruxelas e Paris.

“Depois da residência, quando comecei a ter oportunidades de trabalho a nível internacional, ficou muito claro que, independentemente de onde vimos, temos sempre espaço e poder  para partilhar a nossa cultura, ideias e valores. Sem medo.”

A viver atualmente em Paris, a artista moçambicana tem consolidado um percurso singular, onde se cruzam técnica, ancestralidade e potência poética, num trabalho que, acima de tudo, reflete um corpo em constante pesquisa.

Há pouco mais de um mês, Mai-Júli Machado teve o privilégio de dançar no palco do Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, fechando com chave de ouro os três dias da III Mostra de Artistas Residentes PROCULTURA. No dia 30 de março, apresentou «AMELLE» – Atitude, Maturidade, Elegância, Legado, Liberdade e Esperança – uma performance sobre experiências e processos de desenvolvimento corporal, psicológico e espiritual partilhados pelas mulheres. Um espetáculo apresentado como um ritual passado de geração em geração, atravessado por memórias comuns, vivências do passado, presente e futuro próximo.

“A M.A.R. foi uma experiência incrível pelo reencontro com os outros artistas e foi muito importante pela oportunidade para conhecer e agradecer às instituições e pessoas por tudo que têm feito por nós e pela arte nas nossas comunidades.”

O PROCULTURA é um projeto financiado pela União Europeia, que é gerido e cofinanciado pelo Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. e conta também com financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian. Dispõe de um orçamento de 19 milhões de euros e tem como objetivo contribuir para a criação de emprego em atividades geradoras de rendimento na economia cultural e criativa nos PALOP e em Timor-Leste.

 

@Maria Abranches

NEWSLETTER FUTUROS CRIATIVOS

Subscreva a Newsletter Futuros Criativos